Psicóloga alerta que casos de agressão se tornaram comuns e precisam ser prevenidos
Os abusos e violências sexuais infantis sempre existiram, contudo, tornaram-se mais visíveis com o passar dos anos. Com o aumento da visibilidade, tornou-se importante falar sobre o assunto, de maneira a prevenir e combater os casos de violência, principalmente nas crianças. Como forma de informar e conscientizar sobre o tema, a psicóloga Ana Flávia Weis, de 41 anos, conta um pouco de como identificar os sinais e prevenir que mais casos ocorram dentro das famílias. Em seu consultório, Ana utiliza o método de Terapia Cognitiva Comportamental (TCC), que auxilia as vítimas no tratamento, além de sua formação e mestrado em psicologia ela também possui especializações em Terapia Cognitiva, idealizadora e responsável pelo Instituto Ana Flávia Weis de TCC e Sabiamente, supervisora clínica e atuação de 10 anos como professora no curso de psicologia na Universidade Católica Dom Bosco. Em nossa entrevista ela fala um pouco sobre a identificação dos sinais de abuso e violência, os principais traumas causados nas crianças, a importância da educação sexual nas escolas e como isso influencia na prevenção e combate desses abusos e agressões.
Entrevistadora: Como identificar os sinais de abuso e violência que a vítima apresenta?
Ana Flávia: Os sinais de abuso e violência sempre acontecem com mudança de comportamento, então a criança tem um comportamento padrão e aquilo começa a se alterar de alguma forma. Às vezes tem regressão, coisas que ela já tinha evoluído no comportamento regridem ou, algumas vezes, elas têm mudança de humor, ficando mais irritadas, nervosas, chorando bastante, ou mais tímidas, e perdem a confiança em pessoas que elas confiavam, não querem tirar a roupa perto de outras pessoas, não querem encostar, aceitar cuidado físico. Qualquer tipo de mudança comportamental e emocional pode ser um indício de violência, não significa que é, mas, pode ser um indício. Então, se a criança mudou muito de comportamento, os pais precisam ficar alertas com isso.
Os traumas mais frequentes são de violência verbal, agressividade verbal, acontece muito e é naturalizado em nosso ambiente.
-Ana flávia weis
Entrevistadora: Quais gatilhos e traumas são os mais frequentes nas crianças?
Ana Flávia: Os traumas mais frequentes são de violência verbal, agressividade verbal, acontece muito e é naturalizado em nosso ambiente. Os adultos e pais pensam que podem falar qualquer coisa para a criança e não consideram isso como violência, é o mais comum que a gente tem. Fazer a criança passar vergonha, humilhar, xingar, isso é o mais comum.
Entrevistadora: Como é o processo de tratamento das vítimas?
Ana Flávia: Tudo depende do estado que a vítima chega e da idade. Geralmente, a gente trabalha com bastante tempo de acolhimento, informação de vínculo pra pessoa conseguir confiar no psicólogo e, aos poucos, progressivamente, ir se abrindo para a gente acolher e entender tudo o que aconteceu e reorganizar tudo isso dentro da vida do paciente. A gente trabalha muito com as questões voltadas para a situação em si, de acolher, estar ali, validar o sentimento daquela pessoa mas, também, com propostas de como enfrentar a vida dali pra frente.
Entrevistadora: Qual a importância da educação sexual nas escolas?
Ana Flávia: É muito importante a educação sexual nas escolas para que a gente possa falar sobre, principalmente, para a prevenção. Que cuidados ter, que toques são importantes, principalmente, para as crianças menores, onde eles podem ser tocados, onde eles não podem ser tocados, quem são as pessoas que vão tocar, como podem ser esses toques. A prevenção é sempre o melhor caminho e se isso pode ser feito nas escolas, melhor ainda, porque ali a gente pode reunir muitas crianças. Sempre com muito cuidado de como falar sobre isso, muito mais ligado a prevenção, tem que ser bem cuidadosa quando se trata de escolas.
É muito importante a educação sexual nas escolas para que a gente possa falar sobre, principalmente, para a prevenção. […] A prevenção é sempre o melhor caminho e se isso pode ser feito nas escolas, melhor ainda, porque ali a gente pode reunir muitas crianças.
ANA FLÁVIA WEIS
Entrevistadora: A educação sexual ajuda as crianças e as famílias a identificarem possíveis sinais de abuso e violência?

Ana Flávia: Claro! Quanto mais elas souberem e forem ensinadas sobre isso, mais elas conseguem falar abertamente sobre, maior a chance de elas saberem como devem se prevenir. Os professores também precisam falar sobre isso. Todo mundo deve conseguir falar abertamente sobre o assunto de maneira cuidadosa mas objetiva, sem vulgarizar, falando sobre o que é legal e o que não é e os limites do corpo de cada um de forma saudável. De acordo com a idade de cada criança ir introduzindo os assuntos com cuidado.
Entrevistadora: Como combater e proteger possíveis vítimas desses casos?
Ana Flávia: A proteção às vítimas é sempre oferecendo o que elas necessitam, às vezes com suporte médico, às vezes suporte social mas sempre suporte psicológico, um lugar onde elas podem ser acolhidas, onde elas tenham voz, onde elas possam se readaptar e seguir suas vidas mas, também, precisamos olhar muito o combate em relação a proteção. Quanto mais a gente falar e orientar nossas crianças a ficarem esclarecidas sobre isso, sem que isso seja um tabu ou um trauma, falando de forma mais aberta e cuidadosa, mais conseguimos combater e prevenir!
