Os povos originários no Brasil ainda sofrem com embates desde a invasão colonial por não terem demarcado seu território por toda extensão do país. Afinal, qual parcela de terra pertence aos povos originários? Durante o ano de 2019, no governo do presidente da república, Jair Messias Bolsonaro, não houve registro de demarcação de terras indígenas, segundo dados do Relatório Violência Contra os Povos Indígenas no Brasil, publicado anualmente pelo Conselho Indigenista Missionário (CIMI), ou seja, ocorreu justamente o que o político pregava durante sua campanha e declarações públicas. Em 2019, dos 35 conflitos por terra indígena no país, 10 foram registrados somente no Mato Grosso do Sul, valor total esse que triplicou em relação ao ano de 2018, quando foram registrados 11 conflitos. A postura do Governo Federal é considerada motivadora de expulsões dos povos originários de suas terras para o plantio de monoculturas como a cana de açúcar – matéria-prima do combustível etanol, soja, gado, etc. Após a expulsão dos indígenas de seu tekoha, por direito previsto na Constituição Federal, os ruralistas ateiam fogo em suas casas. Ataques as aldeias e assassinato de lideranças indígenas são umas das formas de violência comuns por parte dos ruralistas Por mais que o tekoha seja ocupado desde os primórdios pelos povos originários, estes seguem sofrendo represálias durante anos.

Sem os direitos primordiais assegurados, os indígenas ficam vulneráveis a problemas com álcool, drogas, abuso dos direitos das crianças e adolescentes, trabalho análogo à escravidão e superlotação em aldeias indígenas. Com o avanço desenfreado das indústrias e da grilagem ilegal, os guardiões das florestas deixam de cultivar seus próprios alimentos, não têm caça, perdem costumes e crenças religiosas, sofrem com o aumento de agrotóxicos na terra e poluição do ar. Em Mato Grosso do Sul não seria diferente, ainda mais por alcançar, segundo dados do Relatório Violência Contra os Povos Indígenas no Brasil, o total de 40 mortes de povos indígenas no estado.

Além da crise territorial, discutida amplamente no STF – Supremo Tribunal Federal com o Marco Temporal, a vulnerabilidade dos povos indígenas tornou-se escancarada durante o momento da pandemia do coronavírus. O Dossiê Internacional de Denúncias dos Povos Indígenas do Brasil 2021, desenvolvido pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), revela violações e ameaças aos direitos dos povos indígenas do Brasil, tanto institucionais quanto socioambientais. Enquanto isso, o povo originário do país segue resistindo e na luta pelos direitos básicos à vida, principalmente, em habitar seus territórios, praticar suas rezas sem que tenham suas casas incendiadas propositalmente pelo “homem branco” e viver em comunhão com o tekoha – ainda mais com o principal órgão federal feito para protegê-los: a Fundação Nacional do Índio (FUNAI), hoje dominada por sanguessugas de colarinho branco.