Chego em casa, vejo que tudo está exatamente como antes, exceto o fato de você não estar mais aqui.  Resisto ao dar o primeiro passo, estou estagnado na porta do nosso quarto. Sinto-me vazio, há um vão em meu peito, nada mais ecoa aqui dentro. Estou à procura de uma guarida para todas as feras que dentro de mim agora habitam. Finalmente entendo o mito da caverna, pois vejo as sombras da felicidade lá fora, mas nada consigo fazer sobre isso. Tenho medo de encarar essa nova realidade desconcertante que é viver sem você.  

Talvez Platão estivesse certo quando disse que só pelo amor o homem se realiza plenamente, mas e agora que meu amor se foi? Eu que li e fui amante da leitura, não encontrei literatura que explicasse tamanho sofrimento. 

Você tinha cor, voz, vida, nome e sobrenome, mas agora, para eles, é só mais um número em uma trágica e longa estatística. Eu já não mais assisto aos telejornais porque sei que vou encontrar outras Marias da Graça pelo país, outras que, assim como você, foram amadas incondicionalmente por suas famílias, mas não tiveram acesso à assistência médica necessária.

E sem querer avisto a nossa foto na prateleira e não consigo me segurar, vou aos prantos e deixo as lágrimas rolarem. O retrato era do nosso casamento. Olho para o relógio e já é hora da sua novela, mas de que importa agora?  De todas as dores que já senti e de todas as coisas que vivenciei, está é, sem dúvidas, a mais difícil. Sou como uma depressão relativa que ressoa saudade.  

Texto: Rhayssa Formigoni Bexiga

Fotos: Pexel