A fazenda era minha diversão nas férias. Não conhecia outro lugar a não ser a fazenda dos meus tios. Acreditava que as condições financeiras da minha mãe era o fator principal para não poder ir em outros locais. Os filhos do funcionalismo público do município conheciam Campo Grande com cinco e São Paulo quando completavam 10 anos. Eu e meus irmãos? A fazenda Maravilha!

No retorno das atividades escolares os assuntos pautados eram frutos do mar, filmes lançados no cinema, pontos turísticos e qual seria o destino para as próximas férias. Sabem qual era minha pauta? Andar a cavalo, tomar leite no mangueiro, os banhos no rio, a programação das próximas férias já estava definida, sabem o destino? A fazenda!

Mas na fazenda era um local fantástico, a vida simples, mas regada de coisas boas. Acordava cedo com um sorriso no rosto todos os dias, não tinha luxo, mas também não faltava nada. A vida sem perspectiva para muitos, um estilo de vida que era passado de geração, a cultura perpetuada por séculos. Nascer na fazenda, crescer na fazenda, criar vínculos na fazenda, casar-se na fazenda, trabalhar na fazenda e, infelizmente, terminar o ciclo na fazenda.

“A vida seria diferente, caso fosse filho da máquina pública do município”, “Por que tenho que estar aqui?”, “Como é viajar para fora, conhecer novos lugares?”, essas indagações fizeram parte em diversos momentos da minha infância, acredito que de muitas outras crianças.

Em certo momento da vida vi minha mãe mudando o caminho que o rio estava percorrendo. Esse ato para muitos era de rebeldia. Como que uma mãe solo, com três filhos, assalariada, poderia pensar em sair do meio de sua parentela para começar outra vida?
Algumas pessoas diziam que isso seria algo rápido e logo voltaríamos para a cidade, e até hoje pessoas não acreditam que isso é verdade e que a vida se tornou independente.

A vida nova, com outros olhares, modos e com muita perspectiva começou a dar forma. Correr atrás do objetivo é algo doloroso, mas necessário. Nesse caso, a metamorfose não foi rápida, o tempo teve que trabalhar com muito planejamento. Nesse período pude entender que todo tempo tem um tempo. É preciso compreender, pois essa é a lei da vida.

Texto: Everton Gama

Foto: Pexel