No começo de 2020 o país foi surpreendido negativamente por um vírus mortal, que mudou radicalmente os hábitos da população, exigindo cuidados maiores para prevenção da contaminação. Para alguns, apenas mais cuidados, e para outros um passo para a insanidade.

Este é o caso do Augusto Silva, de 18 anos. Até 2020, ele tomava cuidado com bactérias e lugares sujos. Desde então, sua rotina ficou bem mais complexa. Em meio à atual situação, antes de sair de casa já coloca sua máscara e passa álcool gel nas mãos, ao sair evita encostar em maçanetas e em outros lugares não necessários. Mesmo antes da pandemia já possuía uma atenção mais intensa com a higiene pessoal. Durante a entrevista, ele contou que sempre observou os traços de TOC presentes em seu cotidiano, mas nunca como hoje, após a propagação do vírus. 

Augusto disse que, inicialmente, procurou se isolar e com ajuda das mídias começou a seguir as recomendações de limpeza evitando contato ao máximo com objetos e pessoas externas.  Como é universitário e faz  uso do transporte público diariamente, a preocupação é redobrada: “Me sinto sem ar, com um incômodo em tocar em certos objetos, como as barras de apoio e os assentos, por exemplo”.

Hoje após o afrouxamento das medidas de biossegurança, e atualmente com três doses da vacina aplicadas, Augusto ainda não se sente seguro e confortável em ficar sem máscaras e em lugares com aglomeração, porém tem em mente que seguindo o cuidado individual com álcool e sempre lavando as mãos, o risco de contrair a doença está menor que anteriormente. 

Desinfetando seus objetos, antes de se acomodar. ( Foto: Fran Valensuela)
Augusto sempre higieniza todos os objetos. ( Foto: Fran Valensuela)
Ao chegar na universidade, Augusto sempre higieniza as mãos. ( Foto: Fran Valensuela)

Já o gerente Adão Cavalheiro, nunca se preocupou com o excesso de cuidados com a limpeza das mãos e uso de álcool gel. Mas a pandemia agregou este cuidado a ele, fato que acabou por desencadear o TOC. Ele conta que na primeira semana do vírus começou suas medidas de proteção. Quando voltava do trabalho, entrava pelos fundos, tirava as roupas e deixava no tanque da casa e entrava direto para o banheiro. Os alimentos eram lavados assim que chegavam em casa, e as frutas sempre de molho na água sanitária.

Adão conta que a gravidade do vírus, só foi entendida no decorrer dos meses, como ele trabalha com turismo, de primeira precisou adequar seu ambiente de trabalho, fechar hotéis e agências que gerencia, cancelar reservas, e passeios já vendidos para aquele ano. Ele precisou readequar sua vida profissional e pessoal para se manter coerente durante esse período.

Sair era uma grande preocupação, e voltar para casa também. Procurava sair o mínimo possível, somente para o necessário. Conta também que foi um período muito traumático em sua vida, muitas vezes se sentia mal por ser tão crítico com as pessoas ao seu redor que não cumpriam as normas da mesma maneira que ele, pois muitos no primeiro momento ainda não tinham entendido a gravidade dos fatos.

A volta ao trabalho presencial foi alentadora. Porém, ainda foi em um período um tanto quanto caótico do vírus, por isso, nada foi como antes.
A empresa não voltou 100%, mas voltou com todas as medidas de biossegurança. Diante de tudo isso, os sentimentos envolvidos foram alívio e medo. Insegurança de estar reunido e não saber como as pessoas estavam seguindo os protocolos, medo da infecção e de infectar a família.

Hoje, após a vacinação já avançada em sua cidade e com duas doses aplicadas, conta se sentir mais seguro e esperançoso.

Sinais de alerta

A psicóloga Clínica, Ana Cláudia Martins Lugo Siebra, formada pela Unigran Capital, alerta que o Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC) não é uma mania de organização, na verdade é um transtorno mental, mais comum em mulheres. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) no Brasil cerca de 4 milhões de pessoas sofrem desta doença. É necessário o tratamento com o médico psiquiatra e também um psicólogo. 

Segundo Ana Cláudia, os sintomas se iniciam com pensamentos repetitivos e a pessoa começa a cumprir alguns rituais criados por ela mesma, e sempre temem que algo de muito ruim acontecerá se não cumprirem. Os rituais vão aumentando com o passar do tempo, podendo ser incapacitantes se não forem tratados. 

O mais comum dos sintomas é o medo de germes ou contaminação, o que faz com que a pessoa lave as mãos excessivamente. Outro sintoma é a preocupação com a limpeza e organização das coisas de forma simétrica, sendo progressiva a necessidade de limpeza e organização.

De um ponto de vista profissional a psicóloga explica que muitas pessoas adoeceram por medo da Covid, mas uma grande parte da população não buscou ajuda para superar este momento e ainda convive com estes sintomas. 

Saúde Mental

Ana Claudia alerta que é importante que as pessoas olhem para suas emoções, para sua saúde mental e busque ajuda ou uma avaliação profissional, pois muitas vezes não percebemos que estamos adoecidos. “Quanto antes identificarmos a necessidade de ajuda, melhor será o resultado. Ainda não saímos totalmente da pandemia e não temos como prever como ficará, foram muitas perdas, sequelas, aumento da ansiedade e depressão, o que podemos fazer é cuidar da saúde mental para lidar com o caminhar de nossas vidas”, finalizou a especialista.