Serial killer retratado em audiovisual tem conquistado simpatia e chama atenção a forma como foi colocado em produção

Quando se fala em serial killers e assassinos, há sempre uma obra de referência deles. Seja uma música, um filme ou um seriado, como o filme da Suzane Richthofen, ou do Ted Bundy, que humanizam bastante os personagens. Quando não há uma história verdadeira por trás, os grandes produtores inventam, como a saga de filmes Halloween, que ganha força todos os anos, principalmente, no mês de outubro.
O problema não é mostrar ao público como essas mentes trabalham, apesar de ter muita ficção no meio das histórias e invenção para elas não serem tediosas, todavia, há sim confusão quando os consumidores dessas produções começam a romantizar e simpatizar com essas ações e pessoas.
Um dos casos envolveu o empresário de Manaus, Alan Mosena, que se fantasiou de Jaffrey Dahmer para uma festa à fantasia. Ele vestiu uma roupa “ensanguentada” e óculos semelhantes ao personagem da série, que está em cartaz na Netflix. Dahmer matou 17 homens e garotos, entre 1978 e 1991, sendo a maioria dos assassinatos ocorridos entre os anos de 1989 e 1991. Seus crimes eram particularmente hediondos, envolvendo estupro, necrofilia e canibalismo.
A fantasia chocou os convidados e Mosena foi duramente criticado nas redes sociais. Alan se pronunciou e afirmou que em nenhum momento ele não teve intenção de atingir alguém.
“Em momento algum a minha intenção foi de afetar ou atingir a imagem de alguém, classe social, raça ou orientação social, longe disso”, declarou o empresário.
Além disso, é comum ver nas redes sociais, como Twitter e TikTok e Instagram pessoas justificando que Jaffrey se arrependeu dos crimes que cometeu.
Na imagem, um usuário do twitter que usa a foto do ator que interpretou Jaffrey e ainda colocou seu user como “Lucas Dahmer”, chamou atenção ao defender o assassino ao falar que ele não tinha dinheiro e por isso suas vítimas foram apenas negros.
Profissionais da mente e da saúde alertam sobre idealização

A psicóloga Ana Júlia Guirado Barbosa afirma que não é incomum perceber que existem pessoas que colocam essa situação como normais, como se fossem realmente uma estrela de cinema.
Ela frisou que quando a história de um serial killer, como o Dahmer, é exposta contada pela perspectiva dele é criado sentimento de empatia pelos consumidores.
“Na série, foi colocado o que ele contou e narrou aos policiais e não da visão das vítimas, ou contando a história das vítimas. A Netflix fez isso só um pouco”, afirmou.
Ainda lembrou que ele recebeu cartas de “fãs” na cadeia, como se fossem uma estrela de cinema.
“Não é saudável, essa empatia pode se apoiar até na história de vida difícil dele, família problemática e afins, para justificar as atrocidades que ele cometeu” explicou.
Mesmo com a gravidade da situação, há pessoas que além de simpatizarem, ficam apaixonadas por pessoas violentas.
“Tem uma condição que chama hibristofilia, são pessoas que se excitam sexualmente e tem mais facilidade de chegar a se apaixonar quando o parceiro já tenha cometido algum crime violento. Isso pode ser explicado pela curiosidade da pessoa pela agressividade.” explicou.
O que o público tem a dizer sobre a série?
Perante um levantamento feito nas redes sociais, entre pessoas de 18 a 23 anos, relatam que ficaram extremamente chocados com a quantidade de violência que contém na série.

Ana Júlia Dutra, de 20 anos, respondeu que achou bem pesado o jeito que tudo foi retratado na série e ainda complementou, “Estou acostumada a assistir casos criminais, mas a série teve bastante impacto”, concluiu.

Para Nathan Godoy, de 19 anos, o ator fez seu papel, entretanto a série ainda se mantém impactante. “Mesmo com a atuação ter sido boa pelo ator, ao desenrolar da série, foi se instaurando um clima opressivo e muito lento”, se posicionou.

Compartilhando a mesma opinião, Bruna Escobar, de 23 anos, falou que houve uma forte colocação da série, mas gostou. “Achei bem pesado, mas eu gostei de assistir”.
Histórico

Recentemente a BBC Brasil (British Broadcasting Corporation), canal referência de jornalismo do mundo, fez uma reportagem sobre a série. A BBC relata que a série está gerando muitas polêmicas, apontando como “insensível” e tendo uma tremenda dificuldade para conseguir “engolir” o jeito de como ela foi feita, relatam os críticos.
O grande jornalista Stuart Heritage, do jornal britânico The Guardian, abordou o ponto principal, falando que esse tipo de produção é para mostrar quem elas são e não torná-las como famosos febris. Antes de tudo, ele nomeou a série como “quase nauseantemente impossível de assistir”.
“O pior de tudo, até certo ponto, é a escolha da abordagem da série. A única coisa boa que uma série como essa pode fazer é tirar os holofotes do assassino e mostrar quem essas pessoas realmente eram. Mas infelizmente ela está muito fascinada com sua estrela principal para fazer isso.”, completou em seu artigo.
Os brasileiros também falaram sobre uma suposta hipocrisia do diretor Ryan Murphy. O site brasileiro Omelete, que trabalha apenas com assuntos de entretenimento da cultura pop como: cinema, HQs, música, televisão e jogos eletrônicos, deu duas estrelas para o seriado e comentou que o diretor caiu se perdeu no personagem e desprestigiou as vítimas .
“Fascinado pelo horror e pela violência, Ryan Murphy se confunde e quase faz o que veio criticar: a romantização de um criminoso […] No último instante, a produção cobra seu posto de “obra crítica” e as fotos de cada uma das vítimas aparecem na tela, uma por uma (isso logo depois da minissérie já ter espetacularizado um homem que guardava cabeças na geladeira). Considerando que nem todos os mortos são retratados no enredo, o recurso incomoda. A minissérie vale o esforço, mas muito pouco para quem são as vítimas. Infelizmente, elas parecem desonradas”, essa explicação foi tirada em partes, do começo ao fim da reportagem.
As famílias das vítimas se encontram desamparadas
Até os familiares não ficaram em paz com a obra, a irmã de uma das vítimas descreveu a série como:”cruel e imprudente”.
Em uma das cenas mais importantes, Rita Isbell, irmã da vítima Errol Lindsey, morto por Jeffrey aos 19 anos, declarou não ter sido informada sobre a reprodução da cena no qual ela fez uma declaração no tribunal contra o assassino, em 1992, e que a mesma cena a constrangeu
“Quando vi parte da série, isso me incomodou, especialmente quando me vi, quando vi meu nome na tela e essa senhora dizendo palavra por palavra exatamente o que eu disse”, disse Isbell ao site Insider.
Jornalista que divulgou o ocorrido se decepcionou
Ao falar com a grande responsável de levar ao mundo os acontecimentos macabros de Dahmer, a jornalista Anne E. Schwartz explicou ao jornal britânico The Independent, que a série “sacrificou a precisão pela dramaticidade”. Ela divulgou os escândalos em 1991.
Ela usa termos como “usaram uma licença poética” aos detalhes importantes e que comprovam que a série não tem muita semelhança com os fatos do caso. Ainda concluiu que houve um sensacionalismo na representação dos policiais da cidade, eles foram descritos como racistas e homofóbicos, o que ela afirma que não é verdade.
