Neste ano completou 48 anos de festa de Nossa Senhora de Aparecida, na aldeia Buriti, na cidade Dois Irmãos do Buriti. O evento reúne toda a comunidade e moradores das cidades vizinhas para o fortalecimento da fé e celebração da partilha e da união. É o momento de muita alegria entre os devotos, quando as pessoas fazem seus pedidos à santa para receber a bênção e muitos, que receberam o milagre, vão para agradecer e pagar suas promessas.
A festa da Nossa Senhora Aparecida se iniciou por meio de uma koixomuneti (pajé) da aldeia Buriti, conhecida como tia Tita (Edite Alcantara Rodrigues), em 1970. Segundo seu filho Odílio Rodrigues, a mãe sonhou com uma imagem, mas por ser pajé, achou que não era nada. A mesma imagem continuou a aparecer em seus sonhos: Tia Tita sonhava com uma mulher morena muito bela, ela sempre descia de uma nuvem branca e conversava com a pajé dizendo que levantaria sua saúde e de sua família e de toda comunidade, pois a mesma estava doente.
Tempos depois, seu marido, Emilio Rodrigues, foi em uma venda perto da aldeia, que pertencia a um casal de japoneses. A pajé, que não gostava muito de acompanhar o esposo, resolveu ir com ele este dia. Ao chegar ao local, tia Tita ficou observando as variedades de santos que ali se encontravam. Quando a senhora da venda pegou a imagem e a mostrou, ela ficou sabendo que se tratava da Nossa Senhora da Aparecida. Logo, tia Tita conversou com seu marido na língua Terena e explicou a ele que aquela imagem era a mesma que aparecia em seus sonhos, e teria que levar para a aldeia. A dona do estabelecimento ouvindo a conversa perguntou ao senhor Emílio o que ela estava falando. Ele então lhe explicou em portugues. Sem pensar muito, a mulher presenteou a pajé com a imagem da santa.
Chegando em sua aldeia, o senhor Emílio reuniu alguns vizinhos e mostrou a santa explicando o tal sonho com aquela imagem. Então, a pedido da xamã foi realizado um mutirão para a construção da capela que foi feita de capim sapé e paredes de tronco do pé de coco. Assim que a capela ficou pronta, no dia 7 de setembro de 1970, foi realizada a primeira festa de Nossa Senhora de Aparecida da aldeia Buriti. A pajé Edite iniciou com um terço e solicitou três meninas de branco que representassem as três Marias. Depois ofereceu um jantar para todos que foram lá fazer alguns pedidos.
Anos depois, ao descobrir que a festa da santa era comemorada no dia 12 de outubro, Tia Tita decidiu realizar a festa no dia da padroeira do Brasil, mantendo o costume que se tornou tradição na comunidade. A festa permanece até os dias de hoje, mas o dia 7 de setembro continua marcado pela reza do terço como era desde seu início.
Atualmente, a festa de Nossa Senhora Aparecida tem três dias de duração, com celebração de missa, procissão e baile com churrasco. Neste ano, a atividade teve início no dia 10 de outubro, período da noite, com louvor religioso. No 11, teve a acolhida da imagem da santa que caminhou na aldeia, em seguida um almoço dançante para os devotos. Já no dia da santa, 12 de outubro, teve a continuação da festa com cavalgada no período da manhã, em seguida houve churrasco.
Edicleia Alves, moradora da aldeia Buriti, grávida pela terceira vez e atribui as gestações à milagre de Nossa Senhora Aparecida.
“Já tive vários pedidos concedidos pela intercessão de Nossa Senhora, uns dos pedidos (…) foi na gestação da minha filha que hoje tem 6 anos de idade. Quando eu estava com sete (meses), tive descolamento de placenta,não podia fazer nenhum tipo de esforço físico, ou qualquer tipo de atividade física, até mesmo estava proibida de viajar. Surgiu a oportunidade de ir ao santuário de Aparecida, eu disse ao médico que eu iria, e então ele disse que lavaria as mãos, “a responsabilidade é sua”. Ele deu toda orientação e eu não segui, mas eu com muita fé que ela iria fazer esse milagre na minha vida e fez. Em Aparecida, existe uma escada muita alta, e para chegar na basílica teria que subir aquela escada, tiva a opção de eu ir de carro, mas não, eu em meu coração senti de subir a escada, pois “eu estou aqui em busca de um milagre,e quero gerar minha filha e que ela venha com muita saúde”. Subindo a escada eu comecei a suar frio, e continuei com muita fé e a emoção veio e comecei a chorar, ajoelhei e agradeci a ela. Aconteceu o parto tudo perfeito e hoje minha filha é uma prova de um milagre. Pois quando voltei de lá fui ao médico, e ele não sabia explicar, pois qualquer esforço que eu fazia, eu sangrava. Eu como devota de Nossa Senhora sempre vou à festa dela, que é feita aqui na minha aldeia, participo de todo ato religioso do dia dela agradecendo por tudo que tem feito em minha vida.
Adriana Aparecida, moradora da aldeia Buriti, que engravidou após promessa à Nossa Senhora Aparecida
No meu parto tive pré eclampsia, o médico disse ao meu marido, que meu parto era de risco, e que uma de nós duas não resistiria, que ele tentaria salvar a vida de nós duas. Eu agradeço a Nossa Senhora, graças à nossa senhora ocorreu tudo certo, minha filha nasceu e hoje estou aqui. Minha filha desde pequena sofria de dor de ouvido, vendo o sofrimento dela eu pedia à Nossa Senhora que a curasse, e hoje ela não sofre mais. Em forma de agradecimento, eu e o pai dela demos uma novilha para a festa da Nossa Senhora.