
“Rota 66 – A história da polícia que mata” retrata a perseguição da polícia a três jovens de classe média alta que são assassinados pela mesma, por acharem que os jovens eram bandidos. O livro o tempo inteiro traz a relação do caso com a realidade da favela, mostrando as mortes que existem do lado pobre e preto, e que nunca se tornaram notícia. Pessoas morrem frequentemente a polícia mata o tempo todo, e o caso que se noticia é relativo a meninos brancos de classe média alta, mesmo tendo ocorrido dentro da favela com gente inocente.
A obra apresenta também, o olhar de pessoas de dentro da favela que não têm conhecimento de como a polícia é ruim e de como ela funciona, e acabam concordando
e apoiando tais atitudes, dizendo que a polícia mata apenas bandido, e que “bandido bom, é bandido morto!”. Podendo rapidamente fazer uma analogia com a situação governamental atual, onde o próprio povo de classe baixa, não percebe que a atual forma de governo não é feita para esse núcleo, e que todas a s atitudes tomadas são severamente voltadas para o decrescimento dessa massa.
O trio de amigos, que foram brutalmente assassinados pelos policiais, estavam tentando furtar um toca música, e foram surpreendidos pela polícia do rota 17, após colidirem com um poste, e serem brutalmente baleados pela polícia. Na apuração do caso, quando os policiais descobriram que o carro não era furtado e quem eram os meninos, os mesmos falaram que o caso ia dar problema, por terem matado pessoas cujas famílias iriam recorrer à justiça e ter dinheiro para fazer uma grande apuração a respeito. E naquele momento a polícia percebeu que havia matado um grupo “errado” de meninos.
Dentro da própria polícia, existem escalas de mérito entre os policiais para saber quais deles matam mais bandidos, e vão se premiando para cada vida inocente que eles decidem se devem ou não ceifar no momento em que lhe cruzam o caminho. O preto e pobre que apoiava o batalhão do rota, e que todos os dias ouvia o rádio, para saber quem eram os corpos da vez a serem aniquilados, teve o seu corpo levado pelos homens em uma manhã cuja o mesmo se aventurou em sair enquanto o batalhão passava para fazer a ronda. O trabalhador, que acreditava que a polícia só matava o merecedor da morte, o homem injusto da favela, foi levado, infelizmente, mais uma vez, por “acidente” da polícia.
O caso chocou o Brasil, e virou notícia, quando três meninos do Fusca azul foram ceifados da vida de maneira tão brutal, e a notícia foi repercutida durante muito tempo. O livro que foi escrito há mais de 30 anos ainda choca se lida nos dias de hoje, pois a situação permanece igual e acontecendo o tempo inteiro na favela, e nunca é notícia. O caso da mãe preta sai para trabalhar e volta no final da tarde com a notícia que seu filho foi pego e morto pela polícia em uma cena falsa de confronto criada pela própria polícia. O corpo morto da favela não tem história, ele tem cor, e tem classe social. o sangue que corre todo dia pelo morro da favela não tem idade, e nem dono, a bala é insana, e ela cruza teu corpo se você der bobeira, ela não tem razão, ela tem motivo. A arma do policial procura preto e pobre, ela tem destino para eliminar mais um.
O que me choca é poder comparar um livro que há tanto tempo circula pelo mercado ter tanta semelhança com a nossa realidade, quando vai parar de existir a diferença de só saber validar a vida do branco de classe média? Só se validar a noticia que existe no meio da elite, e quando o pobre vai virar povo, e quando o negro vai virar gente? Quando a denúncia da mãe preta que perde seu filho vai repercutir e virar notícia? Quando a carne mais barata do mercado vai parar de ser a carne negra? A realidade do Brasil de 2022 não assusta e não assombra a vida de nem metades dos brasileiros, a segregação existente no nosso país se torna cada vez mais visível e é cada vez mais nítida diante dos olhos de cada um, criando cada vez mais um muro para separar as pessoas da massa.
Jornalistas que têm acesso a essas realidades e os alunos que buscam esse caminho de jornalismo policial precisam juntos trabalhar a conscientização da massa, para juntos conseguirem mostrar para a massa que ela tem poder perante o todo, que ela tem direito, que ela tem poder, e que o polícia que mata é o mesmo que saiu da favela com a tendência de uma vida melhor. o policial que mata, mata um dos seus. A clareza e a conscientização precisa haver no meio do gueto, para eles saberem que eles também têm direito perante o mundo. e que morrer em vão, não pode mais ser normal no meio deles. a vida é valida sim.
O Caco traz essa reportagem com um confronto direto para explicar mais de perto como funciona a realidade da polícia brasileira, como eles matam a sangue frio, e traz um número exorbitante de mais de 4.200 casos de pessoas mortas pela polícia em seus anos de pesquisa. Pessoas que morreram sem motivo algum, ele traz a realidade crua de como se funciona a política civil, deixando o caso do rota 66 sem culpado algum.