Pernambucano, Valdeci Santos, 79 anos, foi um mestre de obras que teve uma participação fundamental no desenvolvimento da capital do Mato Grosso do Sul. Trabalhando em grandes empresas de engenharia, ele desenvolveu e ajudou a trazer o asfalto a muitos estados brasileiros. Sua participação no processo de pavimentação, e consequentemente, de desenvolvimento foi de suma importância em sua vida pessoal e profissional.

Além disso, com a vida corrida por conta do trabalho, na qual ele exercia, Valdeci viveu por muito tempo migrando de cidade em cidade por conta das exigências de seu trabalho. Sendo assim, acabava ficando meses sem ter contato direto com sua família, e, seus filhos cresceram longe da vivência com o pai. 

Em decorrência das altas demandas e das exigências de sua profissão, ele teve que abrir mão da rotina com a família e de estar presente no dia a dia de sua esposa e filhos. As obras realizadas nas pequenas e grandes cidades exigiam uma mudança constante, e até mesmo, de estado. Com isso, ao longo dos anos, e com essas mudanças, cada um de seus quatro filhos nasceram em uma cidade diferente, nos Estados de São Paulo, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, e era necessário uma readaptação em um lugar desconhecido.  

Com uma infância sofrida e uma vida cercada de intempéries, Valdeci conseguiu vencer as adversidades e a pobreza em que vivia no sertão pernambucano ao lado de seus irmãos e pais. Saiu de Pernambuco em busca de uma vida melhor, onde se mudou para outro estado e após um período ingressou em uma empresa de pavimentação e teve a oportunidade de transformar a sua vida e a de todos os seus familiares. 

Em uma de suas viagens a trabalho, conheceu Edilene, sua ex-esposa, na qual teve um relacionamento amoroso durante 20 anos. 

Infância

De família humilde e carente financeiramente, aos 15 anos teve que buscar emprego fora de sua cidade natal e enfrentou grandes desafios ao longo de sua caminhada. Com a precariedade financeira, ele e seus sete irmãos moravam em um sítio, longe de sua cidade natal, Bom Conselho (PE). Ao lado de seus pais e seus irmãos, Valdeci trabalhava na roça e exercia um papel fundamental na agricultura. Segundo ele, nem sempre era fácil ter a previsibilidade da colheita dos plantios feitos por eles. Agricultura familiar era a principal fonte de renda, na qual eles plantavam feijão, milho, mandioca e outros alimentos para consumo próprio e para a venda dos mesmos. 

Ao lado de seus sete irmãos, sendo eles: Maria Lima, Doralice Dias, Odilon Oliveira, Lídia Benedito, Rosa Silva, José Oliveira e Valdemar, eles passaram por momentos de grandes dificuldades no sertão Pernambucano. Atrelado a uma vida, na qual, exigia esforço braçal, eles passaram por momentos conturbados de fome e precariedade em suas habitacionais. 

Acervo pessoal

Como conheceu Elídia, sua ex-esposa

Após sua saída do Nordeste brasileiro seguiu para trabalhar como agricultor no Paraná. Mas foi em Mato Grosso do Sul que conheceu sua ex-esposa, Elidia Lucena, mãe de seus quatro filhos: Silvana, Silvia, Claudio e Claudinei. 

Elidia trabalhava na lavoura do cunhado Cícero Celso, em Deodápolis, e, após dois anos de namoro, eles se casaram em Glória de Dourados (MS), em 1968. Seu irmão, José Barreto, era contra o casamento, sendo assim, Elidia precisou fugir para um hotel com Valdeci e de lá foram para o cartório e se casaram oficialmente. 

Segundo Elídia, houveram muitas traições por parte de seu ex-marido. Enquanto ela estava grávida de sua segunda filha, ele mantinha um relacionamento extraconjugal. “Em Poxoréu (MT), ele estava se enroscando com uma menina que trabalhava em uma padaria. Ele levava e buscava a garota na faculdade e namorava como se fosse solteiro.” Elidia conta que, na época, foi até o local e comprovou o que já desconfiava.

Além disso, houveram inúmeras outras situações, e ao ser questionada do por que se submeter a isso, ela comentou que dependia financeiramente do ex-companheiro e que tinha filhos para criar.    

Profissão  

acervo pessoal

A vida profissional de Valdeci iniciou em 1966, quando ingressou na carreira e entrou na empresa Betumarco SA, de terraplanagem em Deodápolis, interior do estado de Mato Grosso do Sul. O pai de família entrou como servente e alguns anos após, foi promovido a topógrafo e com anos de serviços prestados a empresa e a confiança depositada, passou a ser encarregado geral, administrando os serviços da empresa. 

Os registros empregatistas em sua carteira, alegam que seu salário em 1998, era de R$ 1.500,00. O salário mínimo da época era de R$ 130, ganhando 12 vezes mais do que a maioria da população brasileira. A sua vida alavancou em grande escala. 

Ele conta que prestou serviços durante 23 anos para a empresa. Em 1989, o ex-servente foi para Assis (SP), e começou a trabalhar em outra empresa de engenharia e terraplanagem, a Ferrarte, permanecendo por 4 anos. Após os anos prestados de serviço, se mudou para a empresa São Luiz, onde exerceu sua profissão por dois anos e meio. Durante esse meio tempo, o encarregado geral trabalhou em mais duas empresas, AS e Semenge. No final de sua carreira profissional, Valdeci dos Santos retornou a Campo Grande – MS e entrou na AGM, e encerrou suas atividades em 2012. 

Distância da família 

A distância da família era uma das principais dificuldades enfrentadas por Valdeci. Ele relata que ao chegar em Mato Grosso do Sul logo foi trabalhar em Paranaíba, e como eram obras menores, vinha visitar seus familiares de 15 em 15 dias.  Quando a obra foi finalizada, o ex-servente foi no trecho de obra localizado entre Camapuã e Paraíso das Águas, ele comenta que a localização era próxima às visitas aos familiares se tornaram constantes, e ele vinha aos finais de semana ver a esposa e filhos. 

O nordestino relata que quando as obras eram distantes ficava impossibilitado de ver a família com frequência, sendo assim, era possível o contato direto apenas uma vez mês, mas como ele possuía cargo de confiança na empresa em que trabalhava, a flexibilidade era maior, diferentemente de outros funcionários, que viam seus familiares apenas de 3 em 3 meses. Segundo ele, os desafios eram diários e o fato de se ter uma família tornava tudo mais difícil. “Tinha lugares que eu não conseguia levar meus familiares, então eu passava meses sem vê -los. Eu perdi de ver meus filhos crescerem e não consegui estar no dia a dia deles e compartilhar os momentos mais simples da vida”, comenta. 

Edilene, sua ex-esposa

Aos 55 anos, em  suas viagens a trabalho, Valdeci conheceu Edilene, sua ex-esposa, em Xinguara (PA). Ao ficar mais de 30 dias fora de casa, começou a se relacionar com jovem, que era 33 anos mais nova. O encarregado se apaixonou pela moça e manteve um relacionamento com ela, por aproximadamente 20 anos.

Após isso, Valdeci trouxe a jovem para constituir uma família. Edilene Dias, tinha 3 filhas e ao engatar um relacionamento com o ex-servente, elas passaram a morar com ele. A primeira cidade foi Campo Grande, e depois, em 2007, após quase 10 anos de relacionamento, ambos se casaram. Valdeci trouxe a ex-esposa para morar em uma residência própria de Valdeci, em Campo Grande-MS. 

Depois disso, ele, sua esposa na época e a filha dela, foram morar em Goiânia (GO), permanecendo lá até a separação do casal em 2015. Edilene comenta que não queria permanecer no relacionamento e que não estava satisfeita com a relação que era mantida a anos pelo casal. A separação do casal não foi consentida. A  mulher saiu fugida de casa e retornou para sua antiga cidade, Xinguara, onde vive até os dias atuais. 

Filha do coração

Talita Dias, filha de sua segunda ex-esposa, foi recebida e muito amada por seu padrasto. A garota foi criada desde 1 ano de idade por Valdeci, e passou a conviver diariamente com ele, e consequentemente, desenvolveu uma relação afetiva e paterna pelo nordestino. “Conheci meu pai desde que me conheço por gente. Minha mãe começou a se relacionar com ele, e a partir daí estreitamos os nossos laços. Cresci com ele e aprendi a amá-lo como pai”, relata.

Talita morou por dois anos em Campo Grande-MS, e após terminarem as obras de Valdeci nas redondezas da cidade, eles se mudaram, em 2007, para Goiânia e lá permaneceram até 2015. Quando houve a separação, a jovem foi morar com Edilene, sua mãe, mas não perdeu o contato com o pai do “coração“. Em 2017, Valdeci retornou a Campo Grande, e meses depois a garota veio visitá-lo. Atualmente, Talita está residindo na capital juntamente com o pai. A jovem conseguiu um trabalho, através de uma das netas do ex-trabalhador.  `

“Quando meus pais se separaram foi extremamente ruim, afinal, não era aquilo que eu queria para eles, mas era um vontade da minha mãe. Com isso, eu decidi apoiá-la em suas decisões. Meu pai não aceitava e eu tentava compreender os dois lados da moeda. Hoje em dia, eles não mantêm nenhum tipo de contato, mas apesar dele não ser meu pai biológico como muitos dizem, foi ele quem me criou e é por ele que eu tenho um carinho e amor paterno”, discorre ela.    

(Fotos do acervo pessoal da família)