Deixa eu falar?
Pode falar, General.
Então cala a boca!
Se Brasília é pacata e ordeira… Desliga essa droga então!
Esse diálogo te lembra alguém? Bolsonaro? Poderia até ser, mas não é. Isso ocorreu no dia 17 de dezembro de 1983. Foi uma fala do General Newton Cruz, chefe do Serviço Nacional de Informações (SNI), uma espécie de órgão de espionagem no governo do ex-ditador João Figueiredo. Ao ser questionado pelo jornalista Honório Dantas a respeito da falta de democracia do regime, o General deu o que muitos pensaram que foi o último “cala boca” dito por um agente do alto escalão do governo federal, símbolo de uma época marcada pela falta da liberdade de imprensa. Pois é, nós nos enganamos. Não acabou ali.
Frases como estas, ultimamente (mais especificamente desde 2018) vêm rondando os jornais – tanto televisivos, como impressos, on-lines e radiofônicos – de toda a nação. Graças a elas, no ranking de 2022 da liberdade de imprensa, em 180 países, o Brasil ocupa a posição 111°, decaindo mais um vez em relação ao ano passado, quando ocupava a 110° posição. O estudo é feito anualmente pelo Repórteres Sem Fronteira (SRF), organização não governamental internacional que luta pela liberdade de imprensa.
Liberdade de imprensa é artigo de luxo no Brasil, mas não deveria. A Constituição Federal de 1988 cortou a censura, antes vigente no país, estabelecendo que “nenhuma lei conterá dispositivo que possa constituir embaraço à plena liberdade de informação jornalística em qualquer veículo de comunicação social”. Quem dera o processo de redemocratização nos tivesse livrado desse ódio autoritário do poder público e da população em geral ao ser questionada ou quando divulgamos atos que contrariam seus interesses. Parece-se a um fantasma que nos volta a assombrar de tempos em tempos.
Por isso, neste dia 7 de junho, não se deve esquecer que sem a imprensa livre e sem seu devido respeito, qualquer país ficará coberto pela manta da escuridão da desinformação, oprimido e sem poder de fala. Sem ela, não somos nada. Será que um dia esse fantasma nos deixará em paz?
O conceito de liberdade no Brasil é uma faca de dois gumes, seu sentido se distorce em ginasticas extremas na tentativa de justificar discursos hegemônicos. Quem conhece a liberdade no Brasil? ninguém que sobreviva com um salário mínimo.
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