Agora eu era herói e meu cavalo só falava inglês. João estava percorrendo extensos campos em seu cavalo para salvar seu vilarejo do rei maligno que queria privar a todos de sua liberdade. O rei sabia que enquanto a população tivesse alegria, pudesse cantar e dançar, ler e conversar, ele não poderia colocar em prática seu plano mais perverso.
E você era a princesa que eu fiz coroar e era tão linda de se admirar. Maria estava apaixonada pelo príncipe, olhava para todos os súditos do reino que foram ao salão principal do castelo para ver sua coroação. Ela, uma plebeia, agora era uma linda princesa.
Eu enfrentava os batalhões, os alemães e seus canhões e ensaiava o rock para as matinês. João partiu para a guerra, para defender sua casa. Mas, nem todos sabiam que seu sonho era ser cantor, e a cada batalha vencida, ele alegrava os sobreviventes e os feridos, seus amigos de guerra, com música.
Vem, me dê a mão, a gente agora já não tinha medo, no tempo da maldade acho que a gente nem tinha nascido. Todo o reino se alegrou, junto com Maria, a guerreira destemida, que espantou o grande dragão que amaldiçoava o povo. Agora, ela se despedia de seus amigos para partir em sua próxima aventura.
João fechou o livro. Maria parou no capítulo 6. Ele tem que ir ajudar a mãe, que trabalha muito como doméstica para sustentar a casa bem simples que possuem. Já Maria, tem três irmãozinhos para cuidar, enquanto espera os pais chegarem do semáforo.
A escola não é tão boa assim, eles não aprendem direito, têm dificuldade. A saúde não é tão boa assim, falta remédio, a fila é longa. A rua, de terra, sem asfalto, sem esgoto, quando chove alaga tudo e ai de quem não tem um rodo a postos para impedir que a água entre cada vez mais para dentro.
Mas quando eles leem não são João e Maria. São príncipes, princesas, guerreiros e guerreiras, fadas, monstros, médicos, professores, atrizes e atores, cozinheiros renomados, pais e mães, escritores, policiais, musicistas, biólogos, filósofos. Quando leem são o que quiserem. Tudo por causa de um livro.