Ao invés de dar atenção às barbaridades que assolam o Brasil, alguém decidiu implicar com a existência de uma boneca
De maneira surpreendente, a existência de uma boneca Barbie, inspirada na atriz e ativista trans Laverne Cox, parece ser mais absurda que o fato do nosso país estar se afundando cada vez mais em problemas sociais e econômicos. O deputado Otoni de Paula (MDB) teve a aprovação da Câmara dos Deputados, no dia 01/06, do seu requerimento de audiência pública e discussão na Comissão de Seguridade Social e Família sobre “as implicações psicossociais que serão causadas nas crianças” em decorrência da nova boneca Barbie que homenageia a primeira mulher negra transgênero a ter um papel de liderança em um programa de TV com roteiro.
Além de ser uma ação completamente transfóbica, nem parece que estamos passando por um período de inflação horrorosa, onde o poder de compra do salário mínimo é menor do últimos 28 anos do Plano Real, onde a gasolina está cada vez mais cara, onde brasileiros mal conseguem comprar o arroz, feijão e ovo do dia a dia, onde a educação – tanto básica quanto superior – está sendo deixada de lado, onde a saúde pública está conseguindo ser pior do que já era neste tempo de pós-covid que vivemos e tantas outras situações que, se forem citadas aqui, esse texto não terá fim.
Acontece que isso serve como uma “cortina de fumaça”, tapar o que realmente deveria importar, para os que dizem estar “lutando pelas crianças”. Convenhamos, eles não lutam. Segundo dados da Fundação Abrinq de 2021, existem 18 milhões de crianças que vivem em situação de insegurança alimentar no Brasil, ou seja, não têm o que comer todos dias. São 244 mil crianças e adolescentes entre 6 e 14 anos que estão fora das escolas, conforme o levantamento da organização Todos Pela Educação. Os dados mostram que a evasão escolar teve aumento de 171,1% desde 2019, algo que foi acentuado pela crise sanitária que ainda estamos enfrentando.
A empresa Mattel declarou que a criação da boneca é uma forma de promover a diversidade, que de fato é algo admirável para uma marca que no passado apresentou um modelo de corpo praticamente inatingível e nada representativo. Apesar das vendas dessa nova Barbie serem provavelmente poucas no futuro, pessoas como esse parlamentar insistem em proteger as crianças que fazem parte da abominável “família tradicional brasileira” de algo que só é ameaçador em suas cabeças. Alguém que se importa em analisar uma boneca de plástico não está preocupado com as crianças do Brasil.
Não sei se o deputado está achando que o novo brinquedo virá com genitália, algo que nunca esteve presente em qualquer boneca da Mattel. Se não lhe agradou a representatividade, tudo bem, é só não comprar, não precisa proibir.