Um homem sem esperanças de viver e uma menina cheia de vida para transmitir. Essa é a máxima que o renomado diretor Tarsem Singh escolheu para dar luz ao filme “Dublê de Anjo”, que intriga os espectadores com a mistura de histórias e a imaginação inocente de uma menina que fala sobre “problemas de gente grande”.
O diretor indiano carrega em seu nome séries e filmes reflexivos como “O curioso caso de Benjamin Botton”, “Espelho, Espelho Meu” e “A Cela”, sucessos que entremeiam seus 17 anos de carreira.
Lançado em 2006, o filme se passa em um hospital católico da década de 1920 que abriga os pacientes Roy Walker (Lee Pace), um dublê que acredita que está tudo perdido após um acidente durante as filmagens de um curta, e Alexandria (Catinca Untaru), uma menina que quebrou o braço enquanto pegava laranjas.
O contraste entre a leveza e o peso da vida é apresentado pelo diretor com maestria quando o dublê usa histórias para convencer Alexandria a trazer remédios às escondidas para ele tentar se matar. Além disso, cada personagem do conto, criado por Roy, traz um ensinamento diferente sobre vingança, amor, ódio e família.
Além do roteiro que prende a atenção de quem assiste, Singh utiliza recursos visuais para enaltecer ainda mais a obra. As aventuras contadas dentro do filme se passam no Oriente Médio, usando poucos recursos de computação gráfica para apresentar cenários de palácios, escadarias grandiosas e lutas monumentais.
Apesar de todo um trabalho minucioso, um ponto da história que se passa no tempo real no filme deixa a desejar. O dublê quer atentar contra sua vida não só pelo acidente no trabalho, mas sua soma a um coração partido. Esse lado da vida do protagonista fica perdido na trama, fazendo com que o observador anseie por melhores explicações.
Por outro lado, para os amantes da história do cinema, há um aspecto poético desvendado no fim do roteiro que aborda o surgimento dos dublês e das cenas de ação na produção audiovisual, assim, o diretor usa uma espécie de metalinguagem para abordar também sua paixão pela produção de filmes.
Estes são alguns pontos que tornam “Dublê de Anjo” tão necessário de ser assistido e tão especial na filmografia do cineasta americano Tarsem Singh. O mais interessante é ver o autor trabalhar a vida e a morte em duas histórias diferentes que caminham juntas, a dos protagonistas no hospital e o conto inventado por eles.
Com as passagens das cenas entre esses dois mundos tão naturais, é criada uma atmosfera de compaixão pelo sofrimento dos personagens, aliviado pelo sorriso e a inocência de uma menina maltratada pela vida, mas que não deixa de carregar consigo seus valores e sua família, representados em fotos e objetos guardados em sua caixinha de madeira.
Assim, o filme é uma lição de vida para todos que têm o privilégio de o assistir e, além disso, é um convite à reflexão sobre as dificuldades enfrentadas no cotidiano. Apesar da pequena falha no roteiro, o sentido principal permanece intocado diante do espectador, que pode se fascinar com os diálogos e os cenários escolhidos pelo diretor.