“Eu estava começando a ficar doente, mas não queria ficar triste porque estava cuidando do meu filho”, desabafa jovem 

Cerca de 13.752 adolescentes, de 15 a 19 anos, foram mães entre os anos de 2018 e 2019 no Estado de Mato Grosso do Sul, segundo os dados fornecidos pela Secretaria Municipal de Saúde(SESAU) através do Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (SINASC). 

A gravidez precoce traz, segundo especialistas, problemas tanto em relação ao psicológico, físico e também financeiros para essas jovens.  

Thaminny grávida aos 16 anos e seu marido (arquivo pessoal)

Eu fiquei sabendo que estava grávida na escola, eu fiquei bastante frustrada, chorei muito, tive muito medo. Eu era muito nova, tinha 15 anos, ia fazer 16.

desabafa Thaminny Rilary, hoje com 18 anos.

Para Stephanie Franchini, também de 18 anos, a gravidez veio de maneira inesperada e com grande preocupação pelo fato de estar passando por tratamento de depressão na época. “Na mesma semana eu marquei uma consulta com a minha psiquiatra e suspendeu todos os meus remédios. Não podia tomar… Eu tava de 3 meses já”, relata Stephanie. Já Edelice Menezes, hoje com 36 anos, engravidou aos 16, e chegou a esconder a gravidez por 6 meses com medo da reação da mãe: “Eu tinha medo de apanhar dela”, diz Edelice.

O casal Stepanhie e Giovanni com seu filho Bernado (arquivo pessoal)

O psicólogo Gabriel Marques Lima de Andrade, formado pela Universidade Católica Dom Bosco(UCDB), com especialização em Terapia Cognitiva Comportamental(TCC) Infanto-Juvenil, afirma que a falta de informação e ingenuidade são as principais causas da gravidez precoce.

A fase da adolescência é conhecida como o ‘período de correr riscos’, sexo sem proteção, sem prevenir porque há falta de informação sobre a questão sexual, do cuidado consigo mesmo e do conceito chave do que é maternidade. Não tem diálogo aberto, nem mesmo na própria casa com os pais.

explica o psicólogo. 

Edelice Menezes, de 36 anos, foi o exemplo dessa situação. Não houve instrução por parte da família sobre o assunto, dado ao fato de seus pais serem muito fechados. Disse que se sentiu “perdida” durante a gravidez. Contudo, admitiu que se houvesse essa abertura, provavelmente sua vivência seria outra. Hoje, a filha dela tem 20 anos e também já é mãe. Edelice afirma que se sente responsável pela gravidez precoce da filha, pois não soube orientá-la adequadamente. 

Edelice grávida aos 17 anos (arquivo pessoal)

A gravidez pode gerar um comportamento de ansiedade e confusão, afinal a adolescente terá dúvidas em relação ao futuro, segundo o psicólogo Gabriel Marques . Além disso, é comum a insegurança constante em relação à condição financeira.

O bebê tem as necessidades dele, e as dele são as nossas. A gente tem medo de não ter dinheiro, isso mexe com seu psicológico

conta Stephanie. 
O nascimento de Bernado (arquivo pessoal)

A continuação dos Estudos

De acordo com Marques, é de suma importância o apoio da família e, se possível, do pai da criança no que diz respeito aos estudos, pois muitas mães adolescentes acabam se isolando, cuidando do bebê, se sentindo cansadas e com possibilidades de abandonar os estudos, como relata Edelice: 

Peguei trauma. Quando a minha filha me via na sala de aula, ela começava a chorar, a gritar me chamando. Eu não ficava bem com aquilo. Achei melhor desistir de uma vez.

Entretanto, Thaminny contou com a ajuda da família e do marido. “Tive muito apoio dele. Às vezes, eu não queria ir pra aula e ele falava ‘você vai para aula sim’. Eu tinha muita preguiça, mas ele não deixava não. Nem ele e nem minha mãe.” 

Os riscos da Gravidez

A ginecologista Meire Do Rosário Barboza enfatiza que a gravidez durante o período da adolescência é considerada de risco, pois o organismo não está totalmente preparado para a reprodução. Existe uma certa imaturidade do EIXO HIPOTÁLAMO-HIPÓFISE-OVARIANO (HHO), o centro que é responsável pela regulação do aparelho reprodutor feminino e suas inúmeras funções. 

  A doutora também destaca que muitas delas ainda não possuem o desenvolvimento ósseo completo, sendo sujeitas a abortos espotâneos e parto prematuro. Além disso, pode haver manifestações de anemia, malformação fetal, infecção urinária e bebê com baixo peso ou subnutrido. 

 No entanto, o psicólogo Gabriel Marques adverte também sobre o perigo do desenvolvimento da depressão e ansiedade, especialmente, nos casos de gravidez não desejada, reforçando a importância de se buscar ajuda de um profissional. Thaminny foi uma dessas mulheres que sofreu com isso nos primeiros meses de cuidado da filha.

Eu acabei tendo depressão porque ficava muito tempo em casa sozinha, por ser mãe cedo, todo mundo sai e se diverte, mas você fica lá. Eu só queria ficar deitada, não tinha vontade de fazer nada, meu cabelo tava caindo muito e só chorava. Eu fiz tratamento, tomei remédio e já cheguei a ficar dopada.

comentou Thaminny.

A Prevenção

  Tanto o profissional da psicologia quanto a médica ginecologista concordam que a principal forma de precaver a gravidez na adolescência é o diálogo com os pais. Se não se sentem capazes de abordar o assunto, o ideal é procurar ajuda de um profissional. 

Isso tem que ser falado desde a infância. A conversa com a família é o mais importante para que a adolescente possa se sentir mais aberta. Caso os pais não se sintam competentes para tratar o tema, é necessário a busca por um especialista.

Afirma o profissional.

  A doutora chama atenção também para a criação de políticas públicas, estratégias de ampliação da informação e mudanças na abordagem nas escolas sobre o tema, além de trabalhar o “sentido da maternidade”.

É preciso, não só de uma explicação biológica da coisa, mas sobre a sexualidade e da reprodução do homem e da mulher, de que maneira isso afeta, como isso muda, que tipo de comportamento serão necessários caso eles cheguem a ser pais. É justamente fazer com que eles pensem nas consequências deste ato, mas não brigando e sim conversando de maneira mais descontraída

Confirma a médica.

A ginecologista afirma que a atenção precisa ser voltada também para um projeto de vida desses jovens, precisam de uma perspectiva de vida, ter razões para estudar e objetivos de carreira.