No segundo dia do 72 Horas de Jornalismo, o tema central foi “Etnomídias e o protagonismo dos povos indígenas na rede”. Quem falou do assunto foi o jornalista Eric Marky Terena, egresso do curso de Jornalismo da UCDB e membro idealizador da Mídia Índia. Eric explicou que o tema é muito recente, com muitos estudos ainda a serem aplicados, mas faz cerca de cinco anos que alguns indígenas tomaram pauta nas universidades e usaram das ferramentas científicas para falar sobre o cotidiano dos povos indígenas e a realidade nas comunidades.

A Mídia Índia, do qual Eric Marky é co criador, é um coletivo, formado por indígenas, que promove o protagonismo de jovens indígenas na mídia, que por muito tempo quase não tinham espaço ou quando eram retratados acontecia de maneira “pejorativa, muito colonial e às vezes até folclórica” como foi dito por Eric Marky. Esse retrato mostra a necessidade deles de ocuparem espaços em que antes foram silenciados e a Mídia Índia faz parte de tal ocupação.
“Desenvolvemos muito conteúdo de dentro da comunidade para fora, mas também produzimos de fora para dentro, para esclarecer para nossa lideranças, para as escolas, para os anciões, para os professores e para comunidade em geral o que está acontecendo aqui de fora e o quanto que isso está acontecendo, seja no parlamento, nas cidades vai interferir no nosso dia a dia ou no nosso bem-estar na comunidade.”
A palestra mostrou como o protagonismo indígena e a etnomídia vem desses projetos, como o Mídia Índia, do uso da mídia, seja pelo instagram, pelo facebook, youtube para compartilhar a cultura indígena para o mundo e o fortalecimento disso vem da especialização e busca pelo conhecimento do campo tecnológico para ser usado a favor da população indígena. Essa representação é chave para a etnomídia, pois foi dito pelo palestrante que “Trabalhar com etnomídia é muito mais que a fala sobre produzir com identidade do que um termo específico.” A mídia é um reflexo do povo e coletivos como a Mídia Índia garantem que isso seja cumprido.

Ademais foi discutido o protagonismo indígena no COP26, pois apesar de esses povos terem um tremendo impacto e capacidade de ajuda em relação ao meio ambiente, principalmente durante a situação atual, eles são ignorados. Os povos indígenas e sua importância se perdem durante a discussão em eventos como esse, como foi dito por Eric Marky:
“A nível global se discute mercado de carbono, acordo de Paris, mudança de combustíveis fósseis para combustíveis de forma sustentável, mas não se fala sobre populações indígenas, mesmo elas estando alí fazendo parte dos estudos apresentados as nações unidas”
O trabalho de jornalistas como Marky é essencial para haver uma mudança nesse diálogo e que problemas, e dilemas dessas comunidades sejam discutidas ao nível global. A cobertura de eventos feita por indígenas, como na COP26, é essencial para que no futuro as comunidades indígenas sejam integrantes regulares dos debates sobre o meio ambiente.
“A gente hoje fortalece esse papel, esse protagonismo, não só como indígenas, mas como líder de suas comunidades, por que cada um que está aqui acaba virando porta voz de suas comunidades e tráz consigo seus anseios e as necessidades básicas de cada povo”
A palestra de Eric Marky Terena no 72 Hora de Jornalismo foi extremamente informativa e necessária para trazer essas pautas para as universidades e demonstrar para os acadêmicos os tipos de trabalhos que podem ser feitos por jornalistas. Nessa edição do evento a UCDB mostra o que o futuro aguarda para seus com os egressos do curso de jornalismo.
Sobre Eric Marky Terena
Ele é membro idealizador da Mídia Índia e graduado em jornalismo pela Universidade Católica Dom Bosco. Foi bolsista Pibic/CNPq por três ciclos e através da comunicação busca mostrar ao mundo a luta do seu povo e de outros povos indígenas brasileiros.
Fez cobertura audiovisual junto a uma equipe de indígenas da primeira candidatura de uma Indígena a uma chapa à presidência da República, a de Sônia Guajajara, em 2018. Participou de jornadas por 14 países da Europa a fim de sensibilizar os governos sobre as ameaças de empreendimentos financiados por eles no Brasil e seus impactos.
Na semana da greve pelo clima em Nova Iorque marchou como jovem ativista ao lado de líderes indígenas e globais contra as mudanças climáticas. Participou de jornadas por 14 países da Europa a fim de sensibilizar os governos sobre as ameaças de empreendimentos financiados por eles no Brasil e seus impactos. Em 2020, foi selecionado para compor a delegação brasileira representando os povos indígenas e jovens na PreCOP25 (A Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática de 2021), na Itália, e hoje está na Escócia para participar da COP26.