Valdeci dos Santos nasceu em Bom Conselho-PE e, em 1966, começou a trabalhar na construção de ruas e avenidas e, desde então, participou de obras dentro e fora do estado de Mato Grosso do Sul. Ele fez parte da construção de várias avenidas importantes que interligam a cidade. E hoje, conta como a sua jornada começou, suas maiores dificuldades pessoais e como ele chegou até aqui. Valdeci conheceu o Brasil inteiro através da sua profissão e trabalhou em seis empresas: Betumarco, Ferrarte, AS, São Luiz, Semenge e AGM. Sendo assim, percorreu o estado de São Paulo, Pará, Mato Grosso, Minas Gerais, Goiás e muitos outros.

Através dessa profissão ele teve que abrir mão da rotina diária com a família e de estar presente com seus familiares. As obras realizadas nas pequenas e grandes cidades exigiam uma mudança constante de cidade, e até mesmo, de estado. Com isso, ao longo dos anos, e com essas mudanças, cada um de seus quatro filhos nasceram em uma cidade diferente e era necessário uma readaptação em um lugar desconhecido.  

1999, Xinguara-PA

1. Como começou nessa profissão? 

Eu comecei a trabalhar em 1966 em uma empresa de terraplanagem em Deodápolis – MS. Entrei como servente e anos depois fui promovido a topógrafo e depois passei a ser o encarregado geral.

2. Qual empresa trabalhou? 

A primeira empresa em que trabalhei foi a Samarco e, em 1973, ela passou a denominar-se a Betumarco-SA. Trabalhei 23 anos nessa empresa e, em 1989, fui para Assis-SP, e comecei a trabalhar na Ferrarte e permaneci por 4 anos. Logo depois fui para a empresa São Luiz e fiquei 2 anos e meio lá. Depois disso, fui para a AS trabalhei mais 4 anos e fui para Minas Gerais e comecei a trabalhar na Semenge por 3 anos. No começo de 2011, entrei em uma empresa aqui em Campo Grande por nome AGM e trabalhei de 2011 à 2012 e encerrei as atividades.

3. Quais cidades/estado trabalhou? 

Trabalhei em Cuiabá e Barra do Garça – MT. No Mato Grosso do Sul eu trabalhei em Dourados, Nova Andradina, Campo Grande, Naviraí e Corumbá. Em São Paulo trabalhei em Franca, Presidente Prudente e São José do Rio Preto. No estado de Minas Gerais trabalhei em Espera Feliz e Manhuaçu. No Pará as obras foram localizadas em Xinguara, Parauapebas, Santana do Araguaia e Altamira e, em Goiânia trabalhei também em Santa Helena de Goiás. Já trabalhei em muitas outras cidades e por serem muitas é praticamente impossível de lembrar o nome de todas de cabeça.

4. Como era ter que se instalar em cada uma das cidades diferentes com a família ?

Veja bem, eu casei em 1968, nós estávamos em uma obra em Ivinhema-MS, logo em seguida fomos para Nova Andradina, depois fomos para Bauru- SP. A empresa montava acampamento e eu comecei a levar a família. Quando acabamos as obras em Bauru, voltamos para Nova Andradina e depois fomos para Barra do Garça-MT. Em Nova Andradina-MS nasceu a Silvana, minha primeira filha. Em Barra do Garça nasceu a Silvia, minha segunda filha. E quando voltamos de Barra do Garça fomos para Dourados e lá nasceu o Cláudio, meu terceiro filho. Lá em Dourados a empresa disponibiliza casas, então nós morávamos lá e nessas outras empresas que eu trabalhei eles sempre montavam acampamentos para os funcionários morarem ou quando as obras eram nas capitais eles ofereciam casas ao invés de acampamentos.

5. Como os filhos lidavam com as mudanças e com o fato de não ter uma cidade fixa para morar?

 Em 1977 até 1981 fui morar em Presidente Prudente (SP) e lá nasceu o Claudinei, meu quarto filho. Lá em Presidente Prudente só as minhas duas primeiras filhas estudavam. Então, eles não tinham noção, pois eram pequenas e como eles já estavam acostumadas com essas mudanças não tinham tanta dificuldade em lidar com esses fatores

6. Por que escolheu Campo Grande como moradia fixa ? 

Em 1981 viemos fazer uma obra em Campo Grande, sendo assim, eu construí uma casa aqui, aí eu acertei com a minha família para que a partir daquele momento eles não mudassem mais daqui. Depois que eu pré- estabeleci, comecei a construir a casa, e eu ainda continuava trabalhando fora, mas eles se estabeleceram de vez aqui. Eu trabalhei em diversos estados e cidades, mas escolhi Campo Grande porque o escritório central da empresa que eu trabalhava na época era localizado aqui e os serviços em outros estados eram temporários e o máximo que nós chegamos a ficar foi em Presidente Prudente que no total foram quatro anos. E como a maioria dos serviços se concentravam aqui, eu escolhi vir embora pra cá.

7. Com a distância e a grande duração das obras, como o senhor fazia para ver a família? 

Quando eu vim para Mato Grosso do Sul, eu fui trabalhar em Paranaíba e eram obras pequenas, então eu vinha a cada 15 dias. E quando a obra finalizou, começamos a trabalhar no trecho de Camapuã à Paraíso das Águas e eu vinha a Campo Grande nos finais de semana ou duas vezes no mês. Quando as obras eram mais distantes eu ficava 30 dias sem ver a família, mas como eu era de confiança eu tinha essa flexibilidade, diferentemente dos outros funcionários, que só iam ver a família a cada 90 dias. 

8. Quais obras foram feitas em Campo Grande e fora de Campo Grande? 

Então, vou citar uma das mais bonitas e que está até hoje que é obra do Parque Sóter. Fiz o Jardim Panorama, saída de Rochedo, ampliação dos cruzamentos do Shopping Campo Grande e inúmeros outros bairros que não me lembro. Saindo daqui do estado, eu trabalhei na BR-158 no Mato Grosso, tive na Transamazônica até chegar em Altamira e trabalhei em vários outros lugares, mas esse foram os mais marcantes. 

9. Qual foi o maior desafio pessoal enfrentado ? 

Os desafios eram todos os dias, o fato de você ter família torna tudo mais difícil, e tinha lugares que você não podia levar seus familiares. De qualquer maneira você deixa de ver os filhos crescerem e você não consegue estar no dia a dia deles compartilhando os momentos da vida junto com eles e isso é o que mais pesa. Apesar disso, eu sou muito grato por ter vivido momentos especiais, e ter a oportunidade de voltar a morar perto dos meus filhos e netos. As adversidades da vida não são fáceis e, jamais serão, mas devemos ir em frente e superá-las a cada dia.