Mato Grosso do Sul já vem sofrendo há bastante tempo com as queimadas na área rural, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), somente no mês de agosto foram mais de 2.020 focos de incêndio em áreas de vegetação. O Governo de MS já publicou dois decretos que declaram situação de emergência em todo Estado, por 180 dias: um deles está relacionado à estiagem e o outro aos incêndios florestais em qualquer tipo de vegetação. No acumulado de janeiro, Mato Grosso do Sul já teve 3.910 queimadas. Só na região de Porto Murtinho, um dos municípios mais afetados, já foram registrados um total de 1.173 casos em 2021, aumento de 44% em relação ao mesmo período do ano passado.
Para entender esse grave problema que vem afetando diversos setores na cidade e região, conversamos com o presidente do Sindicato Rural de Porto Murtinho, Romeu Barbosa, que junto com os produtores locais, vem desenvolvendo ações para fazer esse enfrentamento.
Sr. Romeu, já se sabe a origem do fogo?
Potencializado pelo tempo seco e a estiagem que atingiu Mato Grosso do Sul, os focos de incêndio geralmente começam em beiras de rios e margens de rodovias, se espalhando rapidamente. Entendemos que alguns focos começam sem que o autor tenha intenção de provocar um incêndio florestal, no caso de um andarilho ou pescador que faz uma fogueira para dormir à noite, ou esquentar um almoço ou café, e deixando o local sem apagar por completo essa fogueira. Claro que tem casos que são propositais, por exemplo no domingo 15 de agosto, um motoqueiro parou em uma fazenda às margens da BR 267 e avisou que tinha um carro parado colocando fogo na beira da estrada. Esta fazenda avisou os vizinhos que já estavam mobilizados e conseguiram controlar esse princípio de incêndio.
É comum esse tipo de queimadas nesse período?
Geralmente sim. Mas esse ano nosso município tem sofrido mais com as queimadas. Uma combinação de fatores extremos, como a geada que contribuiu para aumentar a matéria seca nos campos (que é o combustível dos incêndios), a umidade do ar que estava muito baixa e ainda tem ventando muito.
Calculamos que há mais de 20 anos não tínhamos uma situação como essa.
Quais os prejuízos ambientais, sociais e econômicos, que já identificaram?
Fizemos um levantamento através do Sindicato Rural, junto aos produtores da região, identificamos que já foram atingidos 95 mil hectares de pastagens. Temos que somar a isso as áreas de vegetação remanescente, APP, reserva legal e área indígena. Algumas fazendas ficaram com o gado todo entreverado, há relatos de animais que morreram queimados ou ficaram debilitados devido às queimaduras, vacas paridas que tiveram os tetos queimados e não conseguem amamentar seus bezerros. Também tiveram todas as cercas internas e de divisa queimadas, hoje para construir 1 km de cerca, gastamos de 12 a 15 mil reais. Os produtores atingidos compraram carretas de feno para alimentar os animais. Alguns focos atingiram pontes de madeira, em estradas vicinais, queimando estas pontes por completo. Tudo isso gera uma despesa imediata e prejuízo certo para natureza, para o produtor e de logística.
Como está sendo feito o combate?
O principal afetado pelos incêndios é o produtor rural, então sempre quem inicia o combate às chamas são as fazendas. Tenho certeza absoluta que se não fosse pelo empenho dos produtores rurais o estrago seria muito maior. Somos sempre os primeiros a chegar. É muito comum nessa situação os vizinhos se unirem, enviando homens e máquinas que tem disponível. Como há vários anos não havia incêndios dessa proporção, nem todos estavam preparados. Geralmente os bombeiros chegam após o início do combate ao incêndio. Devido às longas distâncias de nosso município e pequeno efetivo do corpo de bombeiros no mesmo, as fazendas não podem esperar a chegada deles para iniciarem a briga com o fogo.
Existe incentivo público?
Sim, os governos municipal e estadual, tem feito uma força tarefa também. O governo do estado tem contrato com empresas de aviação agrícola para ajudarem no combate aos incêndios. Os bombeiros estiveram nas fazendas antes do início dos incêndios orientando os produtores e trabalhadores rurais.
O que acha que poderia ser feito para acabar ou amenizar essas ocorrências?
Nosso Sindicato Rural está estudando com o corpo jurídico uma forma de pleitearmos o ‘aceiro negro’, que na verdade, é um fogo controlado na época que as condições climáticas não são favoráveis a propagação de incêndios. A estratégia seria fazermos este aceiro às margens das rodovias e rios que cortam nosso município, visando não termos combustível para incêndios florestais na época do ano que é mais difícil de combatê-los. Também seguimos orientando os produtores a terem as máquinas das fazendas todas revisadas e em bom estado de uso, a terem nas fazendas equipamentos tais como abafador, bomba costal, soprador, moto bomba, EPI, que também auxiliam neste combate.
Para finalizar, existe algum programa que monitora os focos de fogo?
Tem alguns aplicativos sim. E um site da NASA que monitora focos de incêndio em todo o planeta, acredito que neste site é possível fazer a comparação de um ano com outro (https://firms.modaps.eosdis.nasa.gov/map/#d:24hrs;@0.0,0.0,3z).