Alessandra Oliveira Santos, 48 anos, agente comunitária de saúde, desde 2009, no município de Três Lagoas, nos conta quais as dificuldades e desafios que a pandemia da covid-19 trouxe à profissão.

Como é sua atuação? O que faz um agente comunitário de saúde?

Trabalhamos diariamente de segunda a sexta-feira, com orientação e prevenção. Em média, cada agente tem 520 pacientes. Acompanhamos mais de perto os hipertensos, os diabéticos, as gestantes, crianças de até 2 anos, acamados, domiciliados e agora suspeitos de covid e confirmados.

Como tem sido sua rotina de trabalho desde o início da pandemia?

Muito difícil, assim como o mundo inteiro, não sabíamos direito com o que estávamos lidando, totalmente fora da nossa realidade, muito medo, porém necessário, pois toda a população estava apreensiva com a situação e nossa função era ser essa primeira fonte de informações e orientações. Perdi as contas de quantas vezes me perguntaram: e a vacina quando começa? Queria eu ter tido essa resposta, logo no comecinho, teríamos salvo muitas vidas.

Você consegue se desligar do serviço quando chega em casa?

Não (risos), os pacientes perguntam dia e noite, não temos horário de almoço, finais de semana e feriados. Com a pandemia então, esquece. O engraçado é que se não respondemos na hora, ficam bravos, independente de horário e dia. É desafiador e ao mesmo tempo gratificante chegar na casa do paciente e ver a alegria que eles nos recebem. Perdi dois pacientes para covid-19 e isso mexe muito com a gente, um sentimento de incapacidade e revolta.

Vocês tiveram uma estrutura de trabalho adequada para este momento?

Nenhuma, tivemos que ir com a cara e coragem e muita cobrança. Estamos em uma posição que vai além dos nossos limites. Como estamos em contato direto com os pacientes, acaba que fazemos o papel de agente, assistente social, conselheira e amiga.

Qual foi o grande desafio que você enfrentou nesse período?

Vários. Claro que o maior sempre foi o medo de pegar covid e passar para os meus. Nosso serviço envolve muito afeto, ter que trabalhar sem esse contato direto com as pessoas, mexeu muito. Outra complicação foi o desencontro de informações no início. Mas felizmente, estamos passando por esse momento difícil e juntos voltaremos a sorrir.

Nesse cenário, houve algo positivo?

Sim, nós agentes comunitários de saúde, no caso do meu posto, seguramos a mão um do outro e falamos estamos juntos e vamos vencer. E não perdemos nenhum companheiro de serviço, nos mantemos firmes cada um na sua fé.

O que você diria a Alessandra, de dois anos atrás, quando a crise da covid-19 se iniciou?

Você me surpreende a cada dia!